HATE AND CHAOS

HATE AND CHAOS
A Revolução já esta em curso !!!

terça-feira, 27 de abril de 2010

PERSA 2010


O início programado para este mês da exploração dos poços da China National Petroleum Company (CNPC) no campo de gás de South Pars, no Irã, poderia ser tanto um precursor como uma explicação de desenvolvimentos geopolíticos mais vastos.

Antes de mais nada, o projeto de US$ 5 bilhões – assinado no ano passado após anos de adiamento por parte dos gigantes da energia ocidental Total e Shell sob a sombra das sanções dos EUA – revela o principal sistema arterial da futura oferta e procura mundial de energia.

Muitos críticos há muito suspeitavam que a razão real para o envolvimento militar dos EUA e de outros países ocidentais no Iraque e no Afeganistão é controlar o corredor energético da Ásia Central. Até agora, o foco parecia ser principalmente o petróleo. Há por exemplo afirmações de que um planejado gasoduto do Mar Cáspio para o Mar Arábico através do Afeganistão e do Paquistão é o prêmio principal por trás da campanha militar aparentemente fútil dos EUA naqueles países.

Mas o que mostra a parceria CNPC-Irã é que o gás natural é prêmio principal que será essencial para a economia do mundo, e especificamente o fluxo de duas vias deste combustível para o Leste e Oeste da Ásia Central rumo à Europa e à China.

Michael Economides, editor do Energy Tribune de Huston é um dos numerosos observadores da indústria que está convencido de que o gás natural ultrapassará o petróleo como a principal fonte primária de energia, não apenas nas próximas décadas como ao longo dos próximos vários séculos.

Ele destaca a recente previsão da International Energy Agency (IEA), com sede em Paris, que reviu dramaticamente em 100% as suas estimativas das reservas globais de gás natural. Economides atribui este enorme aumento a rápidas melhorias tecnológicas em extrair de campos de gás até agora inacessíveis. Afirma que a IEA estima quantidades de gás natural para 300 anos de abastecimento da atual procura mundial. "Se alguém simplesmente imaginar quaisquer contribuições futuras do recurso, muitas ordens de grandeza maior, na forma de hidratos de gás natural, é fácil ver como é quase certo que o gás natural evolua até ser o primeiro combustível da economia mundial", acrescenta.

A importância crescente do gás natural como fonte de energia tem sido firme e inexorável desde há muitos anos. Entre 1973 e 2007, a contribuição do petróleo para a oferta mundial de energia caiu de 46,1% para 34%, com o aumento da utilização de gás natural explicando aquele declínio, segundo a IEA. Outras fontes, tais como a Energy Information Administration (EIA), com sede nos EUA, preveem que o consumo de gás natural triplicará entre 1980 e 2030, data em que mais provavelmente tornar-se-á a fonte de energia primária preferencial para as necessidades industriais e públicas.

Há razões sólidas para o gás natural (metano) tornar-se o rei dos combustíveis fósseis. Em primeiro lugar, tem um poder calorífico muito maior do que o petróleo ou o carvão. Ou seja, mais calor produzido por unidade de combustível. Em segundo lugar, é o combustível mais limpo, pois emite 30% menos dióxido de carbono [NT] em comparação ao petróleo e 45% menos em comparação com o carvão. Em terceiro lugar, o gás é mais eficiente para o transporte, tanto como matéria prima na forma pressurizada em gasodutos quanto como combustível para veículos.

Todas as agências de energia reconhecem que as primeiras fontes de gás natural do futuro estão no Médio Oriente e na Eurásia, incluindo a Rússia. A EIA avalia as reservas de gás natural nestas regiões como sendo sete a nove vezes maior do que aquelas do total da América do Norte – as quais são uma das principais fontes deste combustível.

No Médio Oriente, o Irã é sem dúvida o principal possuidor de reservas de gás. O seu campo de South Pars é o maior do mundo. Se convertido em barris de petróleo equivalentes, o South Pars do Irã tornaria diminutas as reservas do campo petrolífero de Ghawar, na Arábia Saudita. Este é o maior campo de petróleo do mundo e, desde que entrou em operação em 1948, Ghawar tem sido efetivamente o coração pulsante do mundo para o abastecimento de energia primária. Na era que se aproxima, de domínio do gás natural sobre o petróleo, o Irã retirará da Arábia Saudita sua condição de principal fornecedor de energia do mundo.

Tanto a Europa como a China posicionam-se para serem rotas principais para o gás iraniano e da Ásia Central em geral. A infraestrutura já se molda para refletir isto. O gasoduto Nabucco está planejado para fornecer gás do Irã (e do Azerbaijão) via Turquia e Bulgária transportando-o para a Europa Ocidental (assinalando um fim ao domínio russo). O Irã também exporta gás por gasodutos separados para a Turquia e a Armênia e também está à procura de negócios de exportação com outros países do Golfo, incluindo os Emirados Árabes Unidos e Oman. Outra rota principal é o chamado gasoduto da paz, do Irã para o Paquistão e a Índia, através do qual o Irã exportará este combustível para dois dos mais populosos países da região. Mas talvez a perspectiva mais irresistível para o Irã seja o gasoduto de 1.865 quilômetros que fornece gás natural do Turcomenistão através do Uzbequistão e do Cazaquistão para a China e que deve operar a plena capacidade em 2012. O Sul do Turcomenistão tem uma fronteira de 300 km com o Irã e já tem um acordo de exportação de gás com Teerã. Se o desenvolvimento do campo de gás iraniano-chinês de South Pars puder ser incorporado aos gasodutos transnacionais acima mencionados, isso confirmaria o Irã como o coração pulsante da economia mundial na qual o gás é a fonte de energia primária. Isto é potenciado ainda mais pela procura de gás pela China, em crescimento rápido, a qual a EIA prevê que estará dependente de importações em mais de um terço do seu consumo de gás natural em 2030.

Neste contexto de um grande realinhamento da economia energética mundial – no qual haverá uma diminuição contínua do papel dos EUA – a retórica ameaçadora e arrogante de Washington acerca de democracia e paz e da guerra ao terror ou as alegadas armas nucleares iranianas pode ser vista como uma tentativa desesperada para esconder o seu medo de que esteja destinado a ser um grande perdedor. Cercar o Irã com guerras e ameaçar o fornecimento de gás para o provável maior futuro consumidor de gás – a China – é o assunto real. As ações estadunidenses são vistas mais exatamente como o encostar de uma faca nas artérias energéticas de uma economia mundial que os EUA não são mais capazes de dominar.

Um novo aspecto desta história é a posição da Rússia. Com as suas próprias vastas reservas de gás natural, ela pode ser vista como um competidor do Irã. Comprovadamente menos bem posicionada do que o Irã para o fornecimento tanto à Europa como à China, a Rússia é, no entanto, um ator principal e tem cortejado insistentemente a China com um acordo de exportação desde 2006.

Contudo, como observa Economides, "as negociações entre os dois países têm sido intermitentes e, especialmente, a construção do gasoduto tem sido penosamente lenta".

Mas as ambições da Rússia em expandir as suas exportações de gás natural podem explicar porque ela tem mostrado ser um aliado inconstante do Irã. A posição ambivalente de Moscou em relação a sanções estadunidenses contra o Irã sugere que a Rússia tem a sua própria agenda destinada a dificultar a República Islâmica como um rival regional na energia.

Nenhum comentário: